O Dia Internacional da Mulher – a história da violência
Hoje, dia 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da
Mulher (1). Com certeza é uma
data de júbilo quando lembramos o desmonte gradativo e ainda longe de concluído
de barreiras que submetem seres humanos tão extraordinários a empáfia,
ignorância, violência e complexos masculinos.
O homem sempre se prevaleceu de sua força física e da
extrema fragilidade da mulher quando grávida, por exemplo. Graças a isso em
quase todas as ideologias (colocadas em prática), religiões e até em sociedades
que dizem cultuar os Direitos Humanos a segregação é ainda visível e odiosa (2).
Ao longo da história da Humanidade coube às mulheres
trabalhos menores, isolamento, punições severíssimas e poesias, elogios e
cânticos inúteis.
Com certeza existem diferenças maravilhosas entre os sexos,
o que viabiliza a união e continuidade da espécie dita humana. Essas
diferenças, contudo, provavelmente diante das dúvidas em relação à paternidade,
misoginia, complexos que só Freud explica se transformaram em rejeição e
dominação.
Por coincidência ou não o Dia Internacional da Mulher, 8 de
março, é a data (dia e mês) em que Hipátia foi assassinada[ (3), (4),
(5)].
A intolerância religiosa matava uma personalidade fantástica, talvez por isso
também despertando o ódio de tantos idiotas.
Em 8 de março de 1857 um crime traumatizou o povo norte americano
marcando a data para sempre;
No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de
tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande
greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de
trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as
fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os
homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem,
para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente
de trabalho.
A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres
foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130
tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. (6)
Inúmeras mulheres mostraram virtudes colossais, ainda
insuficientes para demolir barreiras que se baseiam em preconceitos absurdos,
alguns cruéis, outros simplesmente oportunistas. No Brasil a violência covarde
contra seres humanos que relutam reagir energicamente à estupidez masculina.
Catarinense aprendi muito cedo a energia e força de mulheres
que aparentemente frágeis eram capazes de atos incríveis, como vi minha mãe trabalhando
noite e dia, bordando “para fora”, enfrentando bandidos, enfeitando a casa com
floreiras, cantando maravilhosamente, cuidando sozinha dos filhos e de sua casa
enquanto as águas subiam durante enchentes, zelando por tudo e ainda assim
sendo extremamente carinhosa com meu pai. O exemplo ela tinha de sua cidade
natal, Laguna, onde Anita Garibaldi conheceu seu companheiro para inúmeras
batalhas. Meu pai, florianopolitano, tinha em sua mãe e minha avó Angelina (vó
China) o modelo de mulher capaz de enfrentar um ladrão, dar-lhe roupas e se
despedir pela porta da frente de sua casa na Praça Hercílio Luz. A capital de
SC foi berço de Antonieta de Barros
[ (7), (8)]
e lugar de muitos pescadores que saiam para o mar enquanto suas esposas
enfrentavam tudo em seus barracos...
Felizmente no Brasil podemos relacionar inúmeras mulheres
especiais, que beleza! Falta, contudo, enfrentar pessoas que Mário Vargas Lhosa
tão bem descreveu em “Guerra no Fim do Mundo”. Muitos recantos nacionais ainda
mantêm preconceitos mortais...
Não sem razão nossa Confreira na Academia de Letras José de
Alencar lutou muito para ser a primeira Desembargadora Negra do Brasil [ (9), (10)].
A dupla condição de ser afrodescendente e mulher exemplifica o poder latente e
capaz de realizar milagres. No Instituto de Engenharia do Paraná a Engenheira Enedina Alves Marques
(11) é um ícone de luta,
cometência e coragem.
Tivemos a oportunidade de viajar muito e morar em diversos
lugares. As telinhas da mídia comercial são onipresentes. É fácil sentir que
lamentavelmente o culto à mulher objeto, boneca, tola e frágil é universal e
base de interesses industriais e comerciais.
Muita coisa precisa mudar, seria fantástico se em nossas
escolas as crianças aprendessem e conhecessem melhor personagens emblemáticas
femininas que fizeram história, inclusive marcando, pelo martírio o início de
vários períodos sombrios da história da Humanidade e, ao contrário, a conquista
de seus direitos (12), com destaque para o
direito de votarem e serem eleitas.
A comemoração do Dia Internacional da Mulher deve ser
momento de reflexão e fortalecimento de lutas a favor da Justiça e libertação
desse ente maravilhoso, a mulher.
Cascaes
8.3.2016